sexta-feira, 4 de junho de 2010

Todos temos direito ao nosso tempo!!!


As pessoas dão-nos um tempo para tudo. Um tempo para chorar a morte de um ente querido, um tempo para nos habituarmos à ideia de ter um filho portador de deficiência, ou uma doença. Dão-nos um tempo para recuperar de um divórcio, da perda de um emprego, um tempo para nos adaptarmos a viver à distância do nosso grande amor, um tempo para nos habituarmos às vicissitudes da vida.
A sociedade, obriga-nos a mostrar máscaras o tempo todo, obriga-nos a reter as nossas emoções, obriga-nos a rir, quando temos vontade de gritar, obriga-nos a olhar com frieza para o mundo, quando a nossa essência nos diz que devemos olhar o mundo com afecto, com amor. A sociedade obriga-nos a andar numa correria constante, com a possibilidade de que, se não acompanharmos a corrida, arriscamo-nos a perdê-la.
Quando damos por ela, estamos embrulhados nesta teia de utopias, de sufocos, de agirmos como robots, que deambulam pela nossa vida, sem falar, sem sentir, sem abraçar, sem sorrir, sem oferecer.
Quando nos damos conta, do que somos verdadeiramente, da nossa realidade, do mundo e das pessoas que nos rodeiam, temos vontade de fugir, de nos esconder deste mundo cruel, da inveja, do preconceito, da exclusão, de que nós próprios somos actores e produtores. Mas fugir para onde? Fugir para quê? Fugir de quem?
Ninguém tem poder para nos moldar, para nos obrigar a ser quem não somos. Ninguém tem a omnipotência de nos dar tempos, seja para o que for.
Só nós somos donos de nós próprios, das nossas acções, dos nossos tempos, dos nossos momentos. Ninguém tem o direito de nos impor um tempo para nada, porque só quem vive o limiar da dor, do sofrimento, entende que cada um de nós tem o seu tempo, a sua maneira de ser e estar, os seus momentos.
Lutamos diariamente, para enfrentar a vida, para aprender a viver com os obstáculos que se deparam nos nossos caminhos, para reaprender simplesmente a viver. Lutamos com todas as nossas forças, para aguentar o pesar nos nossos ombros.
Nestas lutas diárias, temos momentos de muita coragem, de muita garra, de uma determinação inimaginável, parecemos imbatíveis, como se não houvesse nada que nos pudesse derrubar.
Mas por entre as brumas destas batalhas, aparecem pequenas aberturas. Por entre elas, deixamos escapar pequenas gotas de um mal-estar difícil de explicar aos outros. Não estamos bem. Não queremos que nos façam perguntas. Não queremos que tenham pena de nós. Só queremos estar connosco próprios, com o nosso desassossego e aguardar que ele vá com o vento, até à próxima frecha…

6 comentários:

  1. Linda....há muito tempo que não lia um post que me tocasse tanto.

    Está perfeito. Não só tens o dom da palavra, como sentes tanto...como eu.
    Na verdade é isso mesmo que dizes. Temos...temos....temos...

    Tudo na base da normalização e do ser aceite pelo padrão.

    Não é que não deseje que te sintas a ultrapassar tudo. Porque desejo , tal como desejo não me sentir ansiosa e outras coisas...
    Mas os teus ritmos serão sempre respeitados por quem te entende. Por isso...fica sempre à vontade. Aqui estás em casa.

    Vou enviar-te o Cd, sim....e vais adorar a contracapa- está o teu poema escrito e com o nome XXXXX - amiga de Helena Grilo. E como me emociono cada vez que o leio. Fico feliz de ter sido escrito por alguém especial como tu. Sinto-me HONRADA.

    Continua a partilhar os teus pensamentos e escritas conosco. Beijinhos

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  2. Só quem por aqui passa, nos entende Helena.
    As pessoas não respeitam os nossos tempos.
    Há coisas que nem nós próprias conseguimos explicar porquê agora?
    Tenho-me sentido muito mal, nestes últimos dias. Um cansaço intenso, sem forças, deprimida, tonturas, visão turva, enfim.
    Esta noite, sonhei com as minhas filhas. A Leonor tal como ela é hoje e vinha de mão dada com a irmã, com quase dois anos (idade que teria agora). Sinceramente, não consigo entender o significado do sonho. Apenas sei que me angustiou ainda mais....

    Eu já vi na televisão a música. Lindo. Lindo demais. Eu é que me sinto honrada por ter podido escrever pelo JP. Nós vamos fazer uma feirinha em breve. Depois vou encomendar-te uns tantos, para colocarmos à venda na nossa feirinha, em prol do JP.
    Vamos fazer pedidos de apoio a crianças e o JP será um deles.
    Vai ser um sucesso.
    JUNTOS POR TI!JUNTOS POR TODOS!

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  3. Senti cada palavra tua. Ainda hoje passados mais de 2 anos do nascimento do Martim, as pessoas pensam (e mal) que está tudo ultrapassado.Dois anos, podem parecer muito tempo para muitas pessoas, mas tenho dias em que tudo ainda me parece recente. É como dizes: "cada um de nós tem o seu tempo".

    Gosto muito de te ler.

    Um beijinhos muito grande

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  4. Gosto como você escreve, diz muito do que eu sinto tambem...Impressionante como as pessoas cobram de nós...gosto muito de passar por aqui...Que Deus a abençoe sempre, que DEus nos abençoe sempre...

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  5. Querida Sara, como tu dizes e muito bem, dois anos pode parecer muito tempo para muitos, mas para muitas mães como nós, nunca será demasiado tempo. Sempre estará muito recente, porque a perda de um filho não se ultrapassa, não se substitui por nada. A perda de um filho ensina-nos a dar mais valor ao que antes davamos (provavelmente) menos valor e ensina-nos a viver de uma forma diferente. Uma forma, às vezes um bocado estranha...
    Adoro-te
    Beijões ao Martim

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  6. Querida Jéssy, agradeço de coração suas palavras.
    Toda a gente cobra de nós, exige de nós. Nós deixamos, porque estamos frágeis, porque não queremos que nos olhem como "coitadinhas", mas ninguém, ninguém tem o direito sequer de cobrar o que quer que seja de nós.
    Que Deus te abençoe também, minha querida.
    Passa sempre.
    Abraço de amiga

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