sábado, 22 de maio de 2010

"Imagens, momentos, que ficarão para sempre"

«O nosso cantinho»

Olho para trás, revejo cada momento, cada imagem, cada dia, cada hora, cada segundo que passámos juntas. Sinto o mesmo aperto no peito, que senti há 19 meses atrás, quando te tive pela primeira vez nos meus braços. A dor, a angústia, o grito que insistia em não sair, permanecem e permanecerão sempre, porque não há nada pior na vida, do que sentir um filho sofrer dentro de nós, vê-lo nascer sem vida e tê-lo nos seus braços, como se estivesse vivo. Aquela linda roupinha que te comprámos para o dia do teu nascimento, aquela mantinha que te cobria, as botinhas cor-de-rosa que te protegiam do frio, que já nem sentiste, mas que te ficava tão bem. Quando te peguei, e te abracei, acariciando as tuas mãozinhas pequeninas, quis que aquele momento durasse muito tempo. Admirei-te, segurei-te, amei-te como amarei sempre. Tinhas a boca da tua irmã, o mesmo rosto angélico. Eras linda minha querida Ritinha. Mas a dor profunda de te ter no meu colo sem vida, impediu-me de estar mais tempo contigo, porque entrei em risco e os médicos tiraram-te do meu colo, sem que me pudesse despedir de ti. Que estou eu a dizer? Eu nunca quis despedir-me de ti. Só queria mais horas, minutos, segundos. Sim querida, bem sei, que nunca seria suficiente para mim, cada momento que estivesses no meu colo, porque todo o tempo seria pouco.
O tempo mostrou-me que jamais esquecerei aqueles meses, aqueles dias, aquelas horas, porque foi tudo demasiado cruel para ti, para nós. Contudo, o tempo também me mostrou que tu estás junto de nós, de uma maneira diferente e especial, e sentir que vens em meu socorro quando te chamo, dá-me alguma paz interior.
Sei hoje, que não foi por acaso que fui “escolhida”, para te ter, para passar pelo que passei, junto do teu pai, da tua tia “Tita”. Sei que não foi por acaso que eras diferente e nasceste diferente. Não foi por acaso que não te pude ter junto de nós como tanto desejámos.
Sei hoje, que nós mães que perdemos um filho, que temos um filho diferente, não somos escolhidas por acaso.
Quando vejo uma criança como tu, dou-lhe mais amor, que alguma vez imaginei ter para dar. Quando olho para o mundo que nos rodeia e vejo pessoas a queixarem-se porque tiveram um dia menos bom, vejo ignorância, vejo superficialidade, vejo desumanidade e sinto que este sítio em que vivemos é demasiado cruel para crianças como tu minha doce filha. Eu própria sinto que não nasci no lugar certo…
Vejo tudo de maneira diferente, vislumbro sentimentos, emoções, vejo claramente a vida de uma forma, que poucos vêem. Sei que nunca estarei sozinha. Tu estás aí, a tua irmã e o teu pai aqui. Olho-me no espelho e reconheço uma força que desconhecia ter.
Tudo porque Tu Ritinha não vieste por acaso, não partiste por acaso. Amo-te e amar-te-ei sempre minha flor de água.
Parabéns querida pelos teus 19 mesinhos.
Um abraço muito apertado da mana, da mamã e do papá.

2 comentários:

  1. Olá Mara,

    Apesar de ter estado muito perto de uma situação como a tua, não consigo, sequer, imaginar o que estás a sentir!!
    É impossível ficar indiferente às tuas palavras, ficar indiferente à tua Dor!
    Mas infelizmente não tenho palavras que te possam consolar, nem posso (com muita pena minha) mudar esta situação!!
    No entanto, apesar de tudo...sei e sinto nas tuas palavras que és uma guerreira!! Uma MULHER FORTE, capaz de "continuar a caminhar", por ti, pela tua Leonor e pelo teu marido... E quem sabe pelos gémeos que tanto desejas!
    Porque, como diz Barbara Kingsolver: "A força da maternidade é maior que as leis da natureza."

    Portanto, acredito que tu e esse espírito maternal que habita em ti, juntamente com essa família maravilhosa que tens, vão ser capazes de continuar a "escrever" uma linda história de vida...sempre "debaixo do olhar" da vossa estrelinha Rita, que tenho a certeza que vos vai iluminar até ao resto da vida!!

    Um abraço muito apertadinho, amiga!!
    E um beijinho muito carinhoso...

    Se precisares de falar, ou de outra coisa qualquer, dispõe!!

    Infelizmente é só isto que te posso dar!!

    Beijocas para a tua Leonor
    E pensa nos gémeos!! ;)

    Ana Figueiredo

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  2. Acredita que estas partilhas, a disponibilidade para dar o ombro, são o melhor que nos podem dar.
    Cada uma de nós com a sua Luta.
    Sei que tiveste a tua. Mas também és uma guerreira, tal como o teu lutador e a tua família linda.
    Eu também estou AQUI!
    Um abraço forte Ana
    Obrigada pela tua partilha

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