domingo, 23 de novembro de 2008

Quando o mundo te cai aos pés…

Estava uma linda tarde de Setembro, o sol espreitava com força e com uma luminosidade admirável.
Sentia-me bem, apesar dos últimos acontecimentos. Na semana anterior, tinha estado internada com ameaça de parto (as 33 semanas). Já era a segunda ameaça, mas desta vez tinha ficado internada.
Foi um tormento, pois fui obrigada a ficar separada da minha filha mais velha e do meu marido.
Naquele dia sentia-me feliz e ansiosa por ir ver a minha R (já não a via desde as 22 semanas). Apesar desta gravidez não ter sido nada fácil, eu andava radiante, sentia-me a mulher mais feliz do mundo, sentia-me de bem com a vida e a verdade é que tinha tudo para me sentir assim.
A ecografia estava marcada para as 15h. O P foi-me levar e disse-lhe que não precisava ir comigo. Era só mais uma ecografia e o P estava cheio de trabalho nesse dia.
Aguardei calmamente na sala de espera. Enquanto esperava a minha vez, lembro-me de ir olhando para a barriga de cada grávida que entrava (facto comum entre grávidas). Sentia-me orgulhosa com a minha barriga enorme e fazia questão de a exibir.
Chegou a minha vez. Como já era habitual (até porque eu já não era nova nestas andanças), deitei-me na marquesa, com a barriga bem patenteada. A obstetra sorriu para mim e perguntou-me se era o primeiro filho. Respondi-lhe que era a segunda menina.
Começou a ecografia e logo no início, notei uma expressão carregada na médica. Normalmente, tinha uma expressão menos séria. Perguntei-lhe se estava tudo bem. Respondeu-me que falaria no fim do exame. Apesar disso, acreditei sempre que estaria tudo normal e que a médica não estaria nos seus dias. O tempo começou a ser longo demais para uma simples ecografia e a minha confiança foi descendo de patamar. Tive o meu primeiro arrepio de frio. Senti que algo não estava bem, mas não me deixei assustar. Aguardei, pacientemente, pelo fim do exame.
- Pronto, terminei. – disse a obstetra.
Perguntei-lhe, pela segunda vez, se estava tudo bem.
Antes de me levantar, olhou fixamente para mim e respondeu:
- A sua bebé tem problemas.
Aquela frase, foi como se o mundo de repente, me caísse aos pés…
Ainda assim, respirei fundo e segurei todas as minhas lágrimas. Questionei-a sobre os problemas da minha bebé.
Explicou-me que a minha R tinha problemas graves no cérebro. A eco apresentava líquido excessivo no cérebro, uma hidrocefalia. A bebé iria sofrer atraso de desenvolvimento, segundo a médica, mas mais nada adiantou. Mandou-me contactar o meu médico assistente.
De repente, as lágrimas contidas, saltaram-me dos olhos, sem pedir licença e apenas senti o mundo fugir-me, sem que nada pudesse fazer….
Saí da sala e liguei ao P, que veio logo em meu socorro, como sempre faz.
Quando chegou, eu estava numa sala ao lado da sala de espera.
Só consegui abraçar-me a ele, chorar e tentar dizer-lhe o que se passava com a nossa bebé.
Juntos, chorámos o primeiro de muitos choros. Sofremos o princípio de um grande sofrimento e sentimos juntos que o mundo nos caíra aos pés…

7 comentários:

  1. Sei exactamente do que falas. Como o meu filho foi pelas 25 semanas, quando achavamos que estava tudo a correr lindamente...

    Um beijinho de mãe para mãe

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  2. Ainda é muito difícil falar... Tudo isto foi há muito pouco tempo. Sei que não será mais fácil com o tempo, talvez a dor esteja mais apaziguada...
    Um abraço apertado de mãe para mãe

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  3. É muito dificil falar, porque nos faz doer. Dizem que faz bem...
    Cada um sabe de si, se faz bem, ou se não.
    Somos todos diferentes e cada um com ritmos próprios.
    Só quero mandar um abraço apertadinho. Só isso. Beijos

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  4. Para mim é díficil falar, principalmente, depois de me aperceber que só quem passa por situações idênticas, complicadas, sabe dar o valor do nosso sofrimento e entender todas as nossas emoções, sentimentos, angústias, revoltas. Sei que as pessoas não fazem por mal e que nos procuram entender e que cada pessoa é única e diferente, mas ás vezes dizem-nos o que não precisamos ouvir..
    Por isso, também a minha vontade de encontrar aqui alguém da outra face do mundo (aqueles que como nós teve que enfrentar a dureza da vida).
    Obrigada pelas tuas palavras...
    Abraço de mãe para mãe.

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  5. M. um beijinho muito grande para ti, para a L e para o P.É difícil encontrar palavras nestas alturas mas é muito fácil imaginar o que estás a sofrer. Muita força e lembra-te que o teu anjo vai estar agora lá no céu sempre a olhar por vós.

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  6. Obrigada Cláudia, pelas tuas doces palavras. No céu a minha estrelinha, aqui na Terra, vocês para me darem força.

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  7. TENHO 31 ANO E ESTAVA GRAVIDA DE 19 SEMANAS QUANDO NA ECOGRAFIA MORFOLORICA QUE FIZ NO DIA 11-02-2011 FOI DIANOSTICADO QUE O MEU FILHOTE TINHA UMA VENTRICULOMEGALIA BILATERAL GRAVE E UM MIELOMENINGONCELO SAGRADO ENTREI EM PANICO POIS DA BOCA DO OBSTRETA SO HOUVI DIZER(ESTA GRAVIDES TEM QUE SER ENTERROMPIDA . FIQUEI SEM VONTADE DE VIVER MAS AO MESMO TEMP PENSSEI NA MINHA FILHOTA DE 6 ANOS QUE TENHO COMIGO E NO MEU MARIDO QUE TAO FELIZ ME FAZ JA A 10 ANOS TENHO UMA FAMILIA EXELENTE E MUITOS AMIGOS QUE ME TEEM DADO MUITA FORÇA TODA ESTA SEMANA MAS PENSSO MUITO NO MEU FILHINHO QUE DEUS ME LEVOU MAS O QUAL EU TIVE CURAJEM E VIO QUANO SAIU DE DENTRO DE MIM ESTAVA MUITO PERFEITINHO DE CORPO MAS TINHA DENTRO DELE MALES QUE O LEVARAM A FICAR LONGE DE NOS. IRA ESTAR SEMPRE DENTRO DO MEU CORAÇAO POIS ERA MEU FILHO O QUAL EU JA TINHA MUITO AMOR POR ELE. ADEUS FILHOTE AMO-TE ONDE QUER QUE ESTEJAS

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